260 mil chineses em Angola

Na audiência de confirmação junto do Senado norte-americano da sua nomeação como novo Secretário de Estado, a 24 de janeiro, o senador democrata por Delaware, Chris Coons, questionava John Kerry sobre qual iria ser a sua estratégia em África, quer económica, quer quanto a valores, num contexto em que a China tem aumentado amplamente a sua presença no continente africano.

A resposta de Kerry não poderia ser mais clara (tradução livre):

John Kerry

A China está por todo o lado em África – e quero mesmo dizer “por todo o lado”. E eles estão a garantir contratos de longo prazo na exploração de minerais, de … tudo. E há alguns lugares onde os EUA não estão sequer a marcar presença, meus caros. Odeio ter de o dizer, mas temos de entrar no mercado, e para isso precisamos de mobilizar recursos. Acredite, alguém está a pagar a essas pessoas para estar lá, alguém está a investir numa visão de longo prazo. E nós temos de estar preparados. Eu acho que o que trazemos para a mesa é francamente muito mais atrativo do que aquilo que muitos outros países oferecem. As pessoas gostam de fazer negócios com empresas americanas. Somos abertos e responsáveis, e temos liberdade para criar, entre outro tipo de coisas. Se nós organizarmos de forma mais eficaz, podemos vencer. E quando eu digo vencer, não me refiro vitória nos termos da Guerra Fria. Quero dizer vencer em termos de contratos e oportunidades de negócios, de empregos para os americanos, de capacidade de exportar e importar. Em definitivo, de todas aquelas coisas que fazem a diferença no que o americano médio paga pelos bens que usa no seu dia a dia.

Coons relembrava entretanto a Kerry que existem apenas dez funcionários para promoção comercial em todo o continente africano (em contraste ao escritório comercial dos EUA em Hong Kong, que conta com três).

Este debate assemelha-se em muito àquele observado na Espanha e também em Portugal a este respeito, embora em sentido contrário, nomeadamente de alguma sobrepresença na América Latina e em África, respetivamente. Ver a este respeito o posting que publicamos na semana passada, com o título “O Eldorado do século XXI”.

Quanto à presença da China em África, e para além do posting que publicamos a 22 de novembro sobre sobre a presença do investimento chinês e os efeitos de uma (então) eventual abrandamento da economia chinesa em África, gostávamos de divulgar um artigo recente publicado na NetEase chinesa que classifica os países africanos pelo número de chineses neles residentes.

Africa chinesaEm total, cerca de 1 milhão de Chineses em todo o continente. Cerca de 350 mil na África do Sul, em primeiro lugar. Angola surge logo de seguida, com 260 mil (por referência, estima-se que o número de portugueses em Angola se encontra próximo dos 100 mil). Países ricos em recursos petrolíferos ou minerais aparecem nos primeiros lugares: Zambia, Nigéria, Egito e Sudão. Mas também países com políticas ativas de atração de investimento, como a Etiópia. Os dados parecem no entanto estar desatualizados e ser difíceis de monitorizar. A agência oficial noticiosa Xinhua estimava que em 2007 haveria cerca de 750 mil chineses em África sem visto atualizado. Muitos deles a trabalhar para companhias privadas chinesas de infra-estruturas e em países nos quais é possível encontrar uma forma de contornar as leis e os oficiais de imigração de forma a não alcançar quotas.

Muito obrigado mais uma vez aos aos alunos do Mestrado em Estudos Chineses da Universidade de Aveiro por partilhar! Em troca dessa iniciativa, gostava de recomendar a adesão ao grupo do LinkedIn denominado “Países Lusófonos e China”, onde poderão manter-se à par de notícias muito relevantes sobre este relacionamento. Eu já o fiz.

Esta entrada foi publicada em Angola, África, África do Sul, China, Egito, Etiópia, EUA, Hong Kong, Nigéria, Sudão, Zâmbia. ligação permanente.

Uma resposta a 260 mil chineses em Angola

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