Se a re-emergência da Ásia como o futuro centro económico mundial continua a ganhar força, os desafios a nível de segurança não são poucos. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, que a presença militar norte-americana, também intitulada PAX AMERICANA, tem servido de garantia de estabilidade numa região onde ainda persistem latentes e potenciais focos de conflito, quer se trate de disputas territoriais no Mar do Sul da China (com as suas potenciais reservas em petróleo ou gás natural), da questão de Taiwan/Formosa ou da ameaça da Coreia do Norte, onde a Guerra Fria parece ainda bem viva.
Esta protecção norte-americana permitiu aos seus aliados concentrarem-se na reconstrução interna, crescimento económico e inovação tecnológica. No entanto, nas últimas décadas, os orçamentos de defesa na região têm acelerado e não foi diferente em 2011 tal como nos indica o relatório sobre despesas militares do Stockholm International Peace Research Institute . E as tensões territoriais mais recentes começam a ameaçar a estabilidade política regional.
No último encontro (13 de Julho) da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) em Phnom Penh no Camboja, e pela primeira vez nos 45 anos de reuniões regulares, não houve um comunicado conjunto com o sumário das suas deliberações conjuntas. Tudo porque os seus 10 membros não chegaram a consenso sobre uma disputa territorial no Mar do Sul da China entre as Filipinas e a China.
Onze dias depois, o International Crisis Group, a mais conhecida organização não-governamental na prevenção e resolução de conflictos a nível global, lança um segundo relatório intitulado “Stirring up the South China Sea (II): Regional Responses” (o primeiro relatório saiu a 23 de Abril). Segundo o segundo relatório, as disputas territoriais no Mar do Sul da China chegaram a um impasse perigoso entre a China e quatro países vizinhos: Vietname, Filipinas, Malásia e Brunei. A existência de potenciais reservas petrolíferas na área e a redução significativa dos stocks piscatórios tem levado, principalmente, o Vietname as Filipinas a assumirem uma posição de maior confrontação com a China.
Mais a nordeste, a China e a Coreia do Sul vieram esta semana criticar o Japão pela forma como contesta a soberania chinesa das ilhas Diaoyu (Senkaku para os Japoneses) e coreana das ilhas Dokdo (Takeshima para os Japoneses). Japão que acaba de publicar o seu White Paper para a Segurança Nacional onde, para além da ameaça recorrente que representa a Coreia do Norte, aponta também a falta de transparência no processo de decisão militar chinesa e a expansão e intensificação das actividades da China na área marítima próxima do Japão como as suas maiores preocupações actuais.
Em todas estas disputas, um país parece estar no centro das atenções: China. O comportamento militar da China é atentamente seguido na região. Se muitos têm a esperança que a China acabe por aderir às normas regionais e internacionais e que acabe por fortalecer o sistema internacional vigente, por outro lado, e pelo sim e pelo não, vários países da região têm vindo a apelar aos norte-americanos que consolidem a sua presença militar na região. E Washington já respondeu.
Artigo muito interessante do Rodolfo Severino, diplomata filipino e antigo Secretario-Geral da ASEAN entre 1998 e 2002, sobre a problematica de um eventual codigo de conducta sobre o Mar do Sul da China: http://www.eastasiaforum.org/2012/08/11/toward-a-code-of-conduct-for-the-south-china-sea/
E aqui, nas palavras de Douglas Paal, da Carnegie Endowment for International Peace e antigo conselheiro do Presidente norte-americano George W.Bush (pai), como o comportamento dos Estados Unidos, por vezes, “apenas” acaba por piorar a situação:
http://carnegieendowment.org/2012/08/11/dangerous-shoals-u.s.-policy-in-south-china-sea/dc0c
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